Acadêmicos: Lívia
Molica; Wellinton De Sá Arruda & Lidia Arruda
Os retratos de Fayum
surgiram no final do século XIX na Europa e nos Estados Unidos. Por muito tempo
foram vistos como meras curiosidades arqueológicas e, dessa forma, retardando o
seu direcionamento ao estatuto artístico. Outro “problema” foi a tomada de
decisão a respeito de qual setor de exposição no museu deveriam ficar, se na
seção greco-romana ou na seção egípcia, por se tratarem de retratos gregos que
acompanhavam múmias egípcias (Ferreira, 2010).
Para a confecção dos
retratos eram utilizadas duas técnicas diferentes: têmpera de pigmentos com
água e cola animal e em cera de abelha, com resina natural, ovo ou óleo. Dessa
forma haviam duas estéticas diferentes, uma possibilitava maiores detalhes e
grafismos com pinceladas mais bem definidas (têmpera) e a outra resultava em um
aspecto mais matérico, com maior empastamento, devido ao ligante gorduroso
(cera de abelha) (Prata, 2012).
A maioria das pinturas foi
encontrada enterrada na zona do Fayoum (fato que deu origem ao nome) a cerca de
60 km do Cairo. Todas elas estavam embutidas em múmias e estavam tão bem
preservada que a primeira vista foram confundidas com falsificações (Ferreira,
2010).
São retratos em tamanho
natural, na posição frontal, divergindo das demais representações egípcias e
muito mais similar as representações da cultura grega (expressão dos olhos e
utilização do dourado). As mais antigas datam do século I A.C. (Ferreira,
2010).
Ferreira comenta a
semelhança com a expressão grega nos retratos:
Alguns
retratos do Fayum são casos raros em que essa semelhança se acentua: têm fundo
dourado, apresentam um alongamento do pescoço e hipertrofia dos olhos. No
entanto, permanece uma diferença fundamental – os ícones são simbólicos,
estilizados e genéricos, “reduzem-se a uma alma”, pelo que estão longe de ser
retratos (Ferreira, 2010, p.36).
Mendes comenta a frontalidade característica dos retratos
de Fayum:
Na
antiguidade romana tardia, na pintura paleocristã, nos retratos funerários do
Fayum, mas também nos ícones bizantinos, na pintura carolíngia, o olhar frontal
da figura pintada significou sucessivamente a boa índole do cidadão figurado, a
afirmação de um protagonismo relevante, e depois santidade, ou omnisciência, ou
que estamos diante do imperador, do monarca, hieraticamente figurados. Como se
sabe, a frontalidade não é universal – a cabeça de perfil foi, no Egito antigo,
dominante na figuração de deuses e homens, embora com exceções (retratos
funerários, precisamente); e há exemplos de frontalidade na figuração de deuses
em vasos gregos, mas também de modo não dominante (Mendes, 2010, p.11).
Sem nenhuma exceção, os
retratos foram encontrados embutidos em múmias e seu destino final visava sua
entrega ao morto, sem nenhuma função de contemplação. Entretanto alguns fatos
sugerem um uso pré-funerário como: irregularidades de impedem o perfeito
encaixe na múmia; molduras com rastos de pintura; diferenças nas idades das
figuras representadas e dos corpos na altura em que foram embalsamados e;
cartas que anunciavam o envio de retrato de pais para filhos.
As obras podem ser
encontradas em museus como o Louvre (Paris), o Metropolitan (NY) e o Britânico
(Londres).
Imagens:
Ou acesse o álbum no PicasaWeb.
Referências:
FERREIRA,
A. R. Os Objetos Artísticos e os Objetos
Religiosos na Esfera da (In)Visibilidade – Arte e Transcendência: um modo de
habitar o mundo. Revista de Teologia e Ciências da Religião da Unicap, n.1.
2010.
LOBINHO,
J. G. Memento: Christian Boltanski e o
Memorial. Dissertação de mestrado. Faculdade de Belas-Artes da Universidade
de Lisboa. Lisboa. 2011.
PRATA,
S. Os Retratos de Fayoum. Disponível
em: <http://www.sergioprata.com.br/port/fayoum.htm>.
Acesso em 01 de junho de 2012.
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